"Contraponto está saturado de gente que enriqueceu sem nenhum esforço, herdeiros quase em sua totalidade, mesmo na sempre industriosa Inglaterra. Poucas são as exceções. Uma delas é o biólogo Frank Illidge, partidário do comunismo-leninismo e que a despeito de seu apego ingênuo a uma ideologia também opressora, expõe pontos de vista acres e que, curiosamente, coincidem com os meus. Em determinado momento ele é descrito "como cidadão dotado de consciência de classe, [e por isso] tinha de admitir que a ciência pura, como o bom gosto e o tédio, a perversidade e o amor platônico, é um produto da riqueza e do ócio." Mais à frente, tal ponto de vista é retomado, agora expresso pela própria personagem:
"Esses burgueses vivem a condecorar-se mutuamente por serem tão desinteressados - isto é: por terem bastante para viver sem serem forçados a trabalhar e sem se preocuparem com dinheiro. Depois outra condecoração por poderem permitir-se o luxo de recusar gorjetas. E mais uma por terem dinheiro bastante para comprar todo o aparato da cultura refinada. E ainda outra por terem tempo de consagrar-se à arte, à leitura, à galanteria complicada e prolongada. Por que não têm eles a franqueza de dizer abertamente o que estão constantemente dando a entender - isto é: que a raiz de todas as suas virtudes é um bom emprego de capital, bem seguro, a 5 por cento?"
Illidge, entretanto, teve que botar à prova suas convicções, de uma maneira terrível, e acabou revelando-se tão suscetível quanto os "burgueses" que criticava... Mas há ainda outras personagens das quais não podemos esquecer."
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