Friday, July 27, 2007

chegadas e partidas


















ontem foi dia de aniversário importante de novo, três anos do pedro, meu sobrilhado (sobrinho+afilhado). acontece que ontem não tive ânimo nem cabeça pra escrever nada, e confesso que ainda hoje está difícil. esta semana perdi um amigo querido, alguém que deixa saudade e por mais que não se queira ser materialista, é uma ausência muito muito difícil de aceitar. primeiro ele era apenas meu dentista, depois veio uma amizade tão boa e leve.

o zilmar simplesmente revolucionou em minha vida o conceito de 'ir ao dentista'. sempre nos divertíamos tanto, ele era pessoa fantástica. sempre me sacaneando e dizendo uma bobagem ou outra. teria muitas histórias do zilmar pra contar e, é claro, agora por esses dias ando revivendo mentalmente algumas delas, sobretudo as que se referem a práticas reiteradas dele como, ao final da consulta, mesmo tendo outro paciente pra atender, ele perguntava assim.. tá com pressa? tens compromisso agora? é coisa rápida, espera na salinha pra gente papear e fumar um cigarro juntos. teve um dia, na tal salinha, em que ele contou uma piada, a carol, filha dele (outra figuraça!) contou outra. aí ele virou pra mim.. agora é tu e não vem dizer que tu não sabe nenhuma. só que a piada que eu queria contar não era das mais 'de salão'. eu falei, bom depois não diz que não avisei. até hoje lembro a cara dele, ficou vermelho e nunca mais parava de rir.. depois a carol disse que ele saiu contando pra todo mundo, contou inclusive pra minha mãe em uma das consultas dela.

outra divertida marca registrada dele, de quando estava naqueles dias de sacanear os pacientes direto. imagina, a pessoa tá ali naquela situação, confiando no conhecimento técnico e científico do cara e ele vem com essa.. já de luvas, óculos e máscara cirúrgica, com algum daqueles objetos odontológicos horripilantes em punho, ele, bem sério, se aproximava da vítima, arregalava os olhos e dizia em tom muito grave: oremos..!

teve também um dia que tive um problema lá e receitou um antiinflamatório. aí eu falei que já estava tomando um remédio deste tipo em função de algum outro problema qualquer, nem lembro agora qual. ele, com toda a calma e seriedade do mundo, disse algo assim: ah então vem cá, deixa eu te explicar como é que faz neste caso: quando fores tomar o remédio, coloca junto um bilhetinho escrito assim: é para o dente também!!

pois é. não é à toa que fica tão difícil imaginar a vida sem esse cara. o bom é pensar que onde quer que ele esteja, certamente já está divertindo gentes e, é claro, sacaneando todo mundo.

mas comecei a escrever isso na verdade pra falar de outras coisas, era pra contar alguma coisa do pedro, outra pessoinha fantástica que ao longo dos últimos três anos vem também desenhando divertidamente sua história. no entanto, acho que tudo bem misturar tudo. até porque ando mesmo sentindo tudo isso misturadamente por estes dias.


















pedro mora no mato grosso. a foto ali de cima é de agora, de alguns dias antes do aniversário, esta outra aqui é do verão passado e tirei enquanto brincávamos numa praça. para comemorar o dia do pedro, pensei em contar aqui uma das muitas histórias que ele já originou e escolhi esta por ter sido, ao menos para mim, tão significativa e que, de certa forma, fala sobre o jeitinho dele de me ver e, por isso mesmo, acabou me levando, também, a alguns questionamentos importantes.

foi um dia em que pedro e eu brincávamos no meu quarto. o pedro sempre se impressionou muito ao chegar aqui em casa, supostamente uma casa de pessoa adulta, e encontrar ambientes com coisas tão 'brincáveis'. e também, por meu jeito de lidar com ele com certa espontaneidade, sem muita afetação de tia-dinda. aí neste dia estávamos aqui sentados no chão, não lembro se desenhando e pintando ou brincando com o 'tesouro' que preparei pra ele. depois de um tempo ele vai e pergunta assim: joice, você é grande ou você é criança? e este foi sem dúvida o melhor elogio que já recebi na vida. valeu, pedro. espero não desapontá-lo (muito) nem como uma coisa nem como outra.

2 comments:

Waipu Carolina said...

Olá Joice,
Que bonito pós e cheio de história sensível e das que gosto, de amo as histórias. Nele quiçá sem o saber se misturam duas histórias diferentes. Sinto o de teu amigo e em verdade sei como te sentes.Não estamos muito acostumados à morte de seres queridos e mais se ainda são jovens. A mim em poucos anos se foram duas grandes amigas. Uma delas faz agora dois anos, por certo Brasilera e cheia de alegria. A ela a conheci faz 10 anos quando cheguei de Venezuela a Tarragona. Ela foi minha colega neste novo país, fizemos muitas coisas juntas, e tinha dois filhos com problemas e nunca deixava de reir e fazer bromas. Ela fumava muito e se tomava suas cervejas e gostava de sair a passear e dizia que ´sempre tinha que desfrutar ao máximo...como se tivesse sabido que dar-lhe-ia um infarto sozinho com 38 anos. Mas enquanto não se nos esqueça nunca estarão conosco.

Li que em algumas sociedades africanas dividem às pessoas em 3 categorias. "Os que ainda vivem no mundo, os sasha e os zamani.Os sasha são mortos recentes que não estão morridos do todo porque ainda alentam a memória dos vivos, os recordam, os pintam ou contam seus episódios.Quando morre a última pessoa que os recorda então se une aos Zamani, o morridos". Pareceu-me formoso.

Em quanto a teu sobrinho que linda pergunta te fez, é genial. Isso dá muito que pensar e ademais diz muito de ti. Que boa relação.
Um beijo Joice

joice said...

pois é, a mistura, acho, é que a vida é feita de histórias entrelaçadas mesmo, Carolina. meu amigo tinha 64 anos, ou seja, tão jovem demais pra partir quanto qualquer outra pessoa que amamos.
beijo, Carolina.