Saturday, June 09, 2007

sobre concessões e permissões








nessa discussão sobre uma tentativa de regulamentar os conteúdos dos programas de tv, tenho ouvido e lido muito um argumento que me parece um tanto frágil que é este de que 'a tv invade nossos lares sem pedir licença'.. tem certeza? não que eu seja contra a regulamentação, muito pelo contrário. apenas me refiro à fragilidade do argumento que de certa forma desconsidera o fato de que a tv só entra em nossos lares se permitirmos, se dermos nossa concessão. ou seja, talvez falte aí um pouco mais de implicação de nossa parte, coisa que costuma se refletir também em outras áreas da vida..

enfim, é uma proposta de questionamento e reflexão que vem aí em forma de ilustração via autoliniers. liniers é tudo de bom.. divertido, irônico, sutil tanto na idéia como no traço, nas cores.. tem uma coisa de leveza combinada com certa agressividade, sem ser violento.. simplesmente genial e tocante o trabalho deste argentino.

6 comments:

Cé S. said...

Concordo contigo em parte, Joice. Por um lado, é preciso apontar as responsabilidades partilhadas no caso do nosso desastre midiático, pois assim como há empresas que nos ofendem moralmente com sua programação, há pessoas adultas que, de certa forma, OPTAM por serem ofendidas e enganadas.

Mas, por outro lado, é preciso reconhecer que seria irracional que tais pessoas se deixassem enganar conscientemente, de modo que deve haver mais em jogo. O que mais? Bem, acho que o "a mais" é a ignorância sobre a própria ignorância.

Isso é bem abstrato, eu sei, mas acho importante indicar esse lado da coisa, o lado das pessoas que estão sendo enganadas, que estão na "Midiatrix", não saberem que lá estão. (E se o outro lado, o da "Midiatrix", tem ou não uma visão clara das coisas já seria outra questão.)

Mas, enfim, acho importantíssimo que, ante problemas sociais, vejamos a parcela de responsabilidade individual de cada um por tais problemas, sem vitimização automática, e tratando adulto como adultos. Ou seja, teu ponto merece destaque.

joice said...

é, neste sentido que tu apontas, de certa forma posso dizer que também concordo em parte comigo mesma, César. sei que boa parte das pessoas, talvez até a maior parte, está tão anestesiada na midiatrix que acaba por não enxergar nem ao menos as 'grades eletrônicas' camufladas na paisagem.. é a ignorância sobre a própria ignorância de que falas. como é o caso de pessoas que conheço que consideram mera coincidência o fato de sempre concordarem com as opiniões de caras como o Sr. Lasier Martins, por exemplo.

só acho que lutar por regulamentação adotando uma postura de vitimização como argumento, além de ser imaturo e não levar a nada, ainda desconsidera a possibilidade 'alternativa' que todos TÊM de dizer não às suas tv-lesões.. : )

Claudinha said...

Joice e Cesar, esta questão é muito delicada. Não basta mudarmos de canal ou desligar a TV para não aviltar a nossa inteligência com os programas passados nela. Aliás, este é o argumento utilizado pelos radiodifusores para se defenderem de seus abusos em nome da audiência que permite entrar grana a roldão via anúncios. Não temos toda autonomia do mundo como a gente pensa. Eu, tu e o César somos capazes de nem chegar perto de uma televisão e sabemos o porquê. Mas grande parte da população, para não dizer a maioria, não tem a mínima idéia do significado da pauta dos assuntos veiculados e da cultura repassada via telinha. Temos sim uma atitude passiva frente a este meio de comunicação. Não exigimos a sua responsabilidade social que é, em suma, a responsabilidade de seguir a própria Constituição no que diz respeito aos direitos fundamentais de cada ser vivente. Ainda mais, quando não existe pluralidade de programação. Mudamos o canal e vemos os mesmos formatos de programas, os mesmos enredos novelísticos, os mesmos filmes estadunidenses. E os jornais? Acompanhem os diferentes canais cada um com horário diferente: verão as mesmas notícias!!! Outro dado importante: no Brasil, há mais televisões do que geladeiras. Por isso precisamos sim criar horários especiais para programas voltados aos adultos. Precisamos acabar com a erotização das crianças via novelas, onde as mulheres engravidam sem saber quem é o pai, enquanto se faz campanha contra a gravidez na adolescência e pedofilia e prevenção de DST / AIDS. Este é apenas um exemplo entre muitos, onde a lógica da tv comercial se sobrepõe a qualquer conceito de cidadania e onde precisamos criar mecanismos legais de proteção da nossa infância e juventude. Em suma, seguir exemplos do primeiro mundo. Abração!

Cé S. said...

Rica contribuição, Cláudia. Postei um trechinho lá no BL.

joice said...

concordo contigo, Cláudia, quanto à necessidade da criação de instrumentos de regulação para a proteção social. perfeito! e te agradeço a explicação sobre o argumento.
como sabes, foi justamente por pesquisar este tema da grande mídia (ZH, Jornal Nacional e Jornal da Globo) que acabei me afastando tanto dela.. então, de certa forma, pra mim fica 'fácil' simplesmente recomendar 'desliguem a tv' e pronto, mas sei que não é bem assim, é lutar contra toda uma cultura televisiva.
no mais, é sempre tão bom contar com bons leitores e comentadores para o debate. um abraço!

Claudinha said...

Querida Joice, desde 2002 convivo com gente que debate a democratização das comunicações no Brasil. Então, algumas crenças já foram submetidas a outras e a gente vai ampliando o horizonte. Mas alguns recortes são interessantes. Assim, não encontraremos manipulação de tal monta em alguns países da AL e da Europa. Minha "família" argentina por exemplo. Em 5 min de conversa, explicando a atuação da Globo a uma menina de 18 anos, ela saltou: "mas isso es monopolio!" Eu levei um susto com a sua surpresa, pq dei palestras em universidades sobre a atuação da RBS e os alunos ficam te olhando como se estivesses dizendo uma grande novidade, uma ruim novidade, que traz desconforto. É comum encontrar autores e autoras que dirão que o público não é tão permeável à influência midiática, que existem filtros que os protegem. Não no caso do Brasil, onde tu vês a mesma coisa sempre, independente do canal que estiveres assistindo. Não tem como formar opinião, não tem como apontar o contraditório, "naturalizam-se" crenças que dêem conta de que só existe uma forma de pensar e viver a vida. Beijo!